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Psicologia Histórico-Cultural

  • Foto do escritor: Kai Plentz
    Kai Plentz
  • 21 de mai.
  • 3 min de leitura

Quem me conhece sabe, que iniciei minha trajetória profissional na psicanálise. Foi ela que fez parte de toda a minha formação acadêmica como bacharel em psicologia e me acompanhou por mais alguns anos nos atendimentos clínicos.


Mas o meu contato com o marxismo fez com que eu questionasse cada vez mais muitas coisas, inclusive a psicanálise, o que me deixou um pouco desamparado pelo tempo “sabático” que tirei para me reorganizar.


Em 2022 foi quando encontrei a Psicologia Histórico-Cultural (PHC), abordagem da psicologia que não havia sido apresentada de forma ampla durante a minha formação, muito menos como opção no atendimento clínico.


A PHC é uma abordagem da psicologia que surgiu na União Soviética, foi primeiramente elaborada pelo grupo de pesquisa de Lev S. Vigotski (1896-1934), incluindo seus colegas mais próximos Alexei N. Leontiev (1903-1979) e Alexander R. Luria (1902-1977), este último ficou posteriormente conhecido como “o pai da neuropsicologia”.

Essas pesquisas se iniciam a partir de uma necessidade dos autores acima em fazer uma leitura crítica das abordagens psicológicas existentes/emergentes na época como a psicanálise de Freud, gestalt e behaviorismo. E essa criticidade se fez possível à luz do Materialismo Histórico-Dialético (MHD).





Durante anos de pesquisa bibliográfica e experimental, e com outros núcleos de pesquisa se formando em diálogo, muitas críticas e superações de conceitos chave dentro da psicologia ocorreram, como ao próprio entendimento de consciência, inconsciente, desenvolvimento, pensamento, linguagem, etc.


A PHC, se propôs, então, a entender o funcionamento dos seres humanos em sua gênese. E, com isso, possui a compreensão de que somos seres complexos, com determinações sociais, biológicas, psíquicas - com características universais e particulares da humanidade, mas, também, singulares da nossa história - se relacionando dialeticamente, e a social sobredetermina as demais.


Sergei L. Rubinstein (1968/10) coloca:

“Ao falar da atividade psíquica como atividade cerebral relacionada com o mundo externo, cumpre não esquecer que o cérebro não é senão o órgão que permite o estabelecimento de uma ação recíproca entre o mundo exterior e o organismo, o indivíduo, o homem. A própria atividade do cérebro depende dessa interação entre homem e mundo exterior, da relação que se estabelece entre atividade do homem e as suas condições de vida, as suas necessidades. (…). O cérebro é somente o órgão da atividade psíquica; o homem é o sujeito dessa mesma atividade. Os sentimentos, como os pensamentos do homem surgem na atividade do cérebro, mas quem ama ou odeia, quem entra no conhecimento do mundo e o transforma é o homem, não é o seu cérebro”

O que isso significa?


Significa que nossas habilidades (principalmente as exclusivamente humanas) só as são em potencial - se considerarmos apenas nossa formação fisiológica, já que é a partir da mediação social, por meio da aprendizagem (com destaque no papel fundamental do desenvolvimento da linguagem), que elas podem atingir toda sua capacidade, se alterar, reconfigurar, realizar. É, então, a partir dessa relação dialética que a pessoa, ao internalizar a cultura, vai se constituindo.


O que também não quer dizer ignorar a função do biológico na nossa existência. Nossas capacidades só são possíveis de ser por termos um aparato fisiológico que dê suporte, possibilite o desenvolvimento; e como colocado anteriormente, ele também interfere dialéticamente nas demais determinações, tornando impossível ignorar seu papel e funcionamento.


Nós, seres humanos, somos, portanto, distintos de qualquer outro ser vivo, justamente pela capacidade de construção social, de criação de cultura - que formamos e também nos forma - excluindo, assim, a possibilidade de interpretações naturalistas e biologizantes sobre nossas vivências.


Sendo assim, para compreendermos o complexo desenvolvimento humano, não basta o conhecimento mecanicista sobre os caminhos que fazem as sinapses, é preciso um conhecimento amplo da realidade social, histórica e como todas as determinações já citadas se relacionam para que nos tornemos o que somos.

Bom… seria muito pretensioso da minha parte querer dar conta em um texto curto de rede social de uma teoria tão rica e complexa. Por outro lado, espero ter despertado seu interesse e fica aqui o meu convite para que você busque saber mais sobre essa abordagem.


Referências

VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. 2009. Editora Martins Fontes.

LURIA, A. R. Desenvolvimento Cognitivo. 2017. Cone Editora.

VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente. 2010. Editora Martins Fontes.

LURIA, A. R. A Construção da Mente. 2015. Cone Editora.

RUBINSTEIN, S. L. O Ser e a Consciência. 1968. Portugália Editora.


 
 
 

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