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Voce já sentiu que não pertence?

  • Foto do escritor: Kai Plentz
    Kai Plentz
  • 21 de mai.
  • 3 min de leitura

Busco escrever esse texto com muito cuidado, porque além de esbarrar em questões de opressões, esbarra também em coisas muito singulares que temos em nós.


Quando eu era criança, meus pais acreditavam que era preciso realizar alguma atividade fora da escola, por isso eu deveria escolher entre balé e natação (sempre moramos em uma cidade pequena que não possuia muitas opções). Como amante de música e dança que sou, escolhi balé.





Porém, eles também acreditavam que crianças não devem se comprometer em muitas atividades, então em algum momento - eu já mais velho - decidi sair do balé para fazer tênis.


Quando nascemos somos rotulados com um gênero baseado em nossa anatomia corporal. E com o passar do tempo vamos internalizando o que a sociedade espera que performemos, seja saudável ou não, nos cabendo ou nao.


Isso, muitas vezes, faz com que nos abandonemos um pouco, a gente vai se deixando de lado, em prol de performar algo que é esperado de nós. Como muitos jovens LGBT+ (nessa sociedade em que vivemos), eu tive uma infância e adolescência com sentimentos muito contraditórios.


Por um lado, eu performava toda uma feminilidade que me era imposta, e por outro eu ia cada vez ficando mais desconfortável com o lugar que eu estava sendo colocado e ia abandonando coisas que me eram caras, mas que eram vistas como possíveis de abrir mão sem ter essa feminilidade questionada, pra tentar compensar um pouco esse meu desconforto.


O balé/dança foi uma dessas coisas.


Eu me incomodava com o lugar social que era colocado, mas não tinha a menor noção do porquê. Então, sem reflexão, em algum momento, comecei a performar cada vez mais o que é considerado masculino, com isso fui perdendo a flexibilidade requerida para a dança e fui me endurecendo (em diversos sentidos).


Por mais que eu tivesse estudos sobre os papéis de gênero na nossa sociedade, já tivesse todo um entendimento sobre como isso é um dos pilares do capitalismo e qual é a função de mantê-los de forma tão rígida, eu ainda não conseguia enxergar no meu dia a dia, nas minhas escolhas e modos de ser, como eu era afetado.


Rafa Bruneli falou algo no evento “Nas Tramas do Corpo” em São Paulo que fez muito sentido pra mim: “Minha disforia acabou quando me entendi trans”.


Foi só depois que eu me entendi trans que todo meu incômodo ganhou nome e pode ser elaborado. E foi como tirar uma venda dos olhos!


A partir disso pude perceber o que eu reproduzia dessa lógica toda binária de gênero e que não me cabia, coisas que eu amo e que não preciso deixar de fazer pra ser validado, coisas que não eram boas ou que não me sintia bem e poderiam ser abandonadas.


Até um certo ponto, me parece que isso faz parte da vida de muitas pessoas ao se tornarem adultas, por passarem a poder escolher e pensar por si. Porém, existe um além que afeta pessoas LGBT+, e que nos leva, inclusive, a começar de fato a viver mais tarde que o restante, que é o fato de não termos muitos exemplos, amparo e informação enquando estamos crescendo, ou quando temos é geralmente de forma pejorativa e mal vista.


Isso faz com que possamos começar a nos conhecer e nos permitir apenas mais tarde, e para tal precisamos, inclusive, de todo um esforço para superar toda a carga negativa que recebemos em torno de quem somos enquanto crescíamos.


Após esse período de reflexão foi que decidi voltar a dançar! Pra mim, foi uma decisão super importante!

Porém, penso que esse exercício de reflexão acaba sendo contínuo, durante toda nossa vida, já que ainda estamos inseridos em uma sociedade com uma lógica de gênero binária.


E você, já passou por essa experiência de reflexão?

 
 
 

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